sexta-feira, 1 de junho de 2012

Casa Alves Santos – Álvaro Siza Vieira – 1968


·         As características do contexto de intervenção e o modo como o projeto lhes responde:
A obra localiza-se no concelho da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, uma planície costeira arenosa no Douro Litoral.
                Encontra-se numa parcela regular em gaveto com 1150m2, com o formato, popularmente denominado, de “L” conformando um espaço exterior protegido dos ventos norte e oeste que predominam na zona. Como diz A. Ciancheta, E. Molteni no livro “Álvaro Siza – casas 1954-2004”            
“O carácter da casa é introvertido, está completamente fechada para o exterior (os vizinhos comparam-na com o muro da vergonha em Almacén)”. [i]
Vistos da rua, os alçados, poente e norte, são muros que para além de protegerem a casa das condições físicas do local, contribuem para o espírito contrastante e paradoxal que caracteriza a obra, um jogo entre o privado e o público que resulta numa união entre dois espaços, um completamente fechado ao público (visto de fora) e outro exposto e transparente que permite uma simbiose com a natureza (visto de dentro). Esta última característica é acentuada por pequenos desníveis no pavimento do piso 1 como é descrito na fonte acima referida:
“Pequenos desníveis na planta do piso 1 introduzem variações de cota. Por um lado resolvem a união vertical do corpo das duas plantas: como anteriormente na casa Ferreira Da Costa, a planta do piso 1 está ligeiramente semienterrada, de maneira a que a escadaria que leva à planta superior é mais curta e mais apropriada para uma vivenda de dimensões limitadas. Estas diferenças de cota permitem também encontrar a relação de escala entre espaço interior e espaço exterior. Todos os ambientes que se encontram a uma cota mais baixa têm uma perceção mais íntima do jardim.”[ii]
Por sua vez, para reforçar a ideia de uma casa protegida e muralhada são facilmente identificados três planos por onde a casa se desenvolve, o muro do limite do terreno, o corredor de entrada e o muro da fachada.
É uma obra repleta de pormenores construtivos, como a cobertura feita numa só água, e a carpintaria contínua, marcada pela qualidade artesanal, onde a forma e a pureza dos materiais, bem como a ausência de escala e o predomínio do branco põem um ponto final numa década de trabalhos notáveis do arquiteto Siza que o próprio caracterizou como época de “tensões entre o regionalismo e o internacionalismo que desenham uma possível identidade, feita de continuidade e contrastes”.

·         A lógica funcional e espacial da planta que melhor representa o projeto:

A planta selecionada é a do piso 1.
O programa desenvolve-se a partir de uma entrada escondida
“por detrás de um painel branco”[iii]
 intercalado pela única janela (quadrada), dirigida para a sala principal da casa, que perturba o alçado poente, mas que mesmo assim não quebra a linguagem de muros cegos do restante contacto com as vias, porque se encontra encoberta por um  muro. Ao transpor a porta de entrada encontra-se uma rótula de distribuição da circulação interior que coincide com o vértice (ponto frágil) do “L” visível em planta, que permite aceder ao piso superior e distingue a sala principal de partes mais reservadas do programa, como a cozinha, o escritório ou até mesmo os quartos que se encontram no piso de baixo. Todo este sistema de circulação encontra-se nos limites exteriores do “L”, permitindo que os restantes compartimentos se abram para o átrio e tenham um maior usufruto do contexto físico envolvente, e claro a entrada de luz natural.

·         A lógica funcional e espacial do corte que melhor representa o projeto

O corte escolhido atravessa dois quartos bem como o sistema de circulação interior e o pátio central da casa, demonstrando claramente os conceitos já antes descritos, de incapacidade de contacto visual com o espaço público (via) e o afunilamento acentuado pelas águas da cobertura numa progressiva abertura visual do espaço para o átrio privado e exterior da casa.
Esse afunilamento é feito no sentido contrário ao esperado, a variação de pé direito ocorre de fora para dentro. Se imaginarmos uma linha divisória do corte percebemos que na parte em que existe um pé direito mais amplo se associa a zona fria da casa, sem aberturas para o exterior, enquanto que quando o pé direito é mais baixo, a zona quente, existe uma total comunicação com o exterior da casa, jardim. No piso superior resulta num enquadramento visual da paisagem ao nível dos olhos do individuo, que por sua vez origina no piso inferior uma pala sobre parte do átrio que filtra a luz vinda de sul e cria um espaço de simbiose entre interior e exterior.

·         Os aspetos do projeto mais próximos dos modelos canónicos do movimento moderno;

O movimento moderno surge de uma quebra de paradigma ideológico e social dos standards clássicos, e até ai esta obra segue esses ideais, de eficiência social e económica.
                 O próprio autor da casa contextualiza a casa num período de “tensões entre o regionalismo e o internacionalismo”, e ela reflete exatamente isso, um balanço entre, os valores do movimento moderno ortodoxo da primeira geração de Mestres e os primeiros impulsos de humanização da arquitetura., que descreviam Alvar Alto e Bruno Zevi.
A casa Alves Santos identifica-se com os paradigmas da arquitetura nova Corbusiana, na medida em que cumpre alguns dos cinco paradigmas estabelecidos na Carta de Atenas, fachada livre de elementos estruturais que permite as janelas horizontais que predominam nos alçados virados para o jardim da casa; geometrização e simplificação da forma legível no formato em “L” composto de paralelepípedos. Ao mesmo tempo aproxima-se do contraponto feito por Alvar Alto, que critica o funcionalismo técnico e apela ao funcionalismo humano, percebe-se o uso da técnica ao favor do conforto, e a ausência de escala canónica, standardizada pela antropologia, uma valorização da perceção sensorial, frequente nesta obra de Siza Vieira, bem como noutras desta época. Podemos também encontrar alguns dos seis princípios que Bruno Zevi estabeleceu com bases do modelo de arquitetura orgânica: a natureza dos materiais, a cobertura em telha de marselha típica da região, a abundancia de madeiras; e a casa como involucro conceito fulcral no projeto de proteger a casa das condições climáticas bem como dos olhares indesejáveis dos que passam na rua.

·         Os aspetos do projeto que mais se distanciam dos modelos canónicos do movimento moderno;

Álvaro Siza diz numa crónica para a revista Critica de Ciências Sociais, nº24, março 1988:
“Mas a verdade é que hoje, e de um modo geral, já não nos preocupa isso de ser moderno. Alguns pensam que é urgente ser post-moderno. “
Esta casa reflete este ideal de que a arquitetura deve ser diversa e resultado de experiencias, e não prender-se a cânones estipulados como receitas, como os pensamentos que predominavam nesta época. E por isso não teme os regionalismos deixando de parte parâmetros corbusianos como os pilotis, os jardins terraço, visto que não se enquadram nem nas necessidades climáticas e topológicas, nem nas necessidades programáticas. Características que usadas desnecessariamente se transformam num conceito que embora tivesse tido uma boa iniciativa de alargamento do movimento moderno, acabou por o desvirtuar os seus valores iniciais, chamado estilo internacional.
Difere também dos contrapontos de Alvar Alto porque se mantem regido por uma valorização da forma em favor da função, enquanto que Alvar Alto bem como Bruno zevi dizem que não deve ser constrangimento a especificidade formal de um compartimento, alias dão valor a essa especificidade, Siza mantem a rigidez da composição, ou seja pensa a casa de fora para dentro, primeiro idealizou a casa na sua globalidade e plasticidade e só depois articulou o programa, ou seja usou a planta livre idealizada por Corbusier( um funcionalismo técnico), regida por uma “cobertura”  exterior,  em vez da defendia por Bruno Zevi (funcionalismo humanizado) planta livre fruto das especificidades do programa.
               

Fontes de Informação

[i]  A. Ciancheta E. Moleteni, “Alvaro Siza-  Casas 1954-2004” Editorial Gustavo Gili. - “El carácter de la casa es introvertido, ya que está completamente cerrada al exterior (los vecinos hablaban de muro de la verguenza de Almacén)”
[ii]    A. Ciancheta E. Moleteni, “Alvaro Siza-  Casas 1954-2004” Editorial Gustavo Gili. “pequeños desniveles en el pavimento de la planta baja introducen variaciones de cota. Por un lado resuelven la únion vertical en el cuerpo de dos plantas: como anteriormente en la casa Ferreira da Costa, la planta baja está ligeiramente semienterrada, de manera que la escalera que lleva a la planta superior es más corta y más apropriada para una vivenda de dimensiones limitadas. Estas diferencias de cota también permiten encontrar la justa relación de escala entre el espacio interior y el jardín. Todos los ambientes se encuentran en una cota más baja que hace muy próxima e intima la percepción del jardín.
[iii] Luís Trigueiros, Álvaro Siza1954-1976: Editorial Blau lda. 




Trabalho de Síntese Final_U.C. Geometria
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